quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Parte III

O bar estava lotado: homens, mulheres, poetas, fotógrafos,  jornalistas, artistas e pseudo-artistas . Assim que Lis entrou sentiu uma estranha sensação. O mesmo pressentimento quando conheceu Arlindo. Ela foi ao seu camarim, virou três taças de vinho seguidas, olhou seu rosto no espelho e saiu.
Quando subiu no palco, a luz que refletia apenas o seu corpo acabou cegando-a, impedido de ver a platéia. Deu boa noite. Cantou a primeira canção. Sentiu-se tonta. Ausentou-se durante uns quinze minutos. Voltou. Já se sentia melhor. Pediu desculpas ao publico. E deu seqüência ao show.
Mesmo linda, com a voz impecável e inspirada, Lis sentia uma insegurança que nunca sentira antes. Era como se fosse a primeira vez que estava ali. Mesmo assim segurou a onda, e seguiu quase naturalmente, se não fosse um pedido de um fã, que dizia: -Linda mulher, desejo que tu cantes ‘a woman left lonely’ de Janis Joplin.
No momento, Lis gelou, pois a musica dizia exatamente o que ela sentia. Mas já tinha se acostumado com pedidos de fãs, então não o decepcionou. Cantou e o publico aplaudiu de pé. Mas aquela sensação ainda não havia passado, Ela já estava desconfiada, ou iludida. Quando cantou a ultima musica, agradeceu ao publico pela presença e desceu desnorteada, como se procurasse alguém no meio da multidão.
Nesse caminho, Ela esbarrou no tal poeta. Ele se chamava Tom Capricorniano, e era seu fã desde o primeiro show. Ele a pegou pelo braço, deu-lhe um abraço desengonçado, e sussurrou no seu ouvindo:-Te espero no camarim com flores e propostas...
Ela riu como se fosse uma piada, pois Ele já estava bêbado. O poeta seguiu para o camarim da recém artista. Ela continuou a procura, e de repente viu um homem de costas que lembrava vagamente Arlindo, ela considerou o tempo que não mais via seu amor, e já foi puxando o desconhecido, que virou assustado pensando pornografias. Ela se desculpou. Sentou na primeira cadeira que encontrou, e chorou desapontada fumando seu cigarro.
Depois de um certo tempo chorando de cabeça baixa, Lis se lembrou de Tom, que disse esperá-la no camarim. Então ela seguiu para lá. Quando chegou, o poeta boêmio já estava roncando. Ela fez um barulho proposital para que ele acordasse naturalmente. E assim aconteceu. Ele riu e pediu que a cantora se sentasse ao lado dele, dando três tapinhas no sofá. Ela notou umas flores próximas ao espelho, mas nada disse, apenas fez uma expressão de curiosidade. O poeta começou a citar algumas poesias que havia composto para ela, mas ela nem prestou atenção, queria ir direto ao assunto. Pediu que adiantasse as supostas propostas. Ele, por sua vez, se declarou. Disse que desde a primeira vez a viu cantando ficou alucinado por ela e que ela o seduziu intimamente, pois quando pensa nela, o corpo corresponde o pensamento, desejando se fartar daquele corpo perfeito, maquiado pela voz e personalidade que ela possuía. Ele queria casar com ela, ter filhos, e ser seu empresário – bobo.
Lisbela até poderia ser uma mulher vulnerável por causa da sua carência, mas não era boba. Ela sabia que a verdadeira proposta do poeta era ganhar dinheiro à custa dela. E recusou o pedido imediatamente.
Quando chegou em casa, Lis sentiu um extremo cansaço nas pernas e nos ombros. Por isso tomou um banho demorado, fumando, bebendo, chorando e ouvindo Pink Floyd. Vestiu uma camisola que a muito não vestia. Quando apagou as luzes para dormir, alguém bateu na porta. E ela logo reconheceu o toque.

Continua...

Rita Hayworth. Linda.

Um comentário:

  1. Meu Deeeus! Vc só pode ta querendo me matar de tanta curiosidaadE! haihuea
    Como assim alguem bateu na portaa? Oo
    Posta a parte IV amanhãa pliiis! rs
    Mtoo bom mais uma vez! E as fotos estão dispensando comentários viu? PERFEITAS!
    Mto orgulho! =D

    =**

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