domingo, 28 de novembro de 2010

Série

Depoimentos de Garotas de Programa de diferentes classes sociais & culturais.
Tema: Minha vida não é uma gozação.
Episódio 3- Soraia, 31 anos – Aposentada.
-Bom gente, eu gostaria de antes de qualquer coisa, agradecer à Deus pelas coisas maravilhosas que aconteceram na minha vida, porque...
-Srª Soraia, queremos saber da sua vida como garota de programa...
-Ah sim sim... desculpa, gente! Naquela época que eu não tinha aceitado Jesus ainda, eu usava outro nome, era Dalva, Dalva da BR. Eu ficava fazendo vida ali em Bejo da Madre de Deus, Pernambuco.
A vida não era fácil. Já fui abandonada longe da minha cidade, já fui obrigada a usar drogas, já me espancaram... Nesse dia eu fiquei só o creme. Só Jesus na minha causa. Fiquei um mês no hospital.
Quando eu voltei pras estradas, o povo nem acreditou que eu tava viva. Já tinha puta nova no meu lugar, deu uma briga danada. Pra eu achar outro ponto pra ficar foi um sacrifício. O ponto que eu achei ficava na frente de uma igrejinha no meio do mato. Todo dia eu tinha vontade de ir lá pra ver como era o negocio. Foi aí que eu conheci um homem que me tirou dessa vida de mulher ruim, Reginaldo.
Ele era caminhoneiro e ia uma vez por semana na missa dessa igrejinha. Reginaldo me prometeu que se eu saísse dessa vida, ele ia me assumir, casar e ter filhos comigo. Eu fiquei meia assim, porque tinha medo de ser sustentada por homem. Mas meu coração me disse que tava na hora de sair dali e começar uma nova vida.
Aceitei Jesus, casei, tenho dois filhos: Leandro e Leonardo, porque eu sou fã deles. Eu morro de vergonha do meu passado, mas foi ele que me levou ao grande amor da minha vida.
Eu quero aproveitar a oportunidade pra agradecer e orar a Deus...
- Obrigada Senhora, seu tempo acabou...

sábado, 27 de novembro de 2010

Série

Depoimentos de Garotas de Programa de diferentes classes sociais & culturais.
Tema: Minha vida não é uma gozação.
Episódio 2- Amanda, 20 anos – Universitária
Amanda de Jesus, mas odeio o de Jesus, na noite me chamo Ketlin. Iniciei minha carreira logo que vim morar em salvador, pois minha faculdade é muito cara, e o dinheiro que meus pais mandam é pouco.
Quando eu cheguei aqui, era bem inocente, boba. E ficava com medo de gastar meu dinheiro mandado pelos meus pais, e no dia seguinte não ter o que comer. Aí minha colega de república me aconselhou a testar esse trabalho, já que ela era experiente no ramo. Eu achei um absurdo! Fiquei pensando nos meus pais, nas minhas amigas de Guanambi. E disse não. Mas no mês seguinte, meu pai mandou menos dinheiro do que no mês anterior, eu fiquei desesperada, liguei pra ele, e ele me disse que não podia fazer nada mais por mim, mandou também eu conseguir um emprego. Fiquei com muita raiva dele. Chamei minha colega e aceitei a proposta.
No mesmo dia ela me arrumou um cliente. Era super rico e super velho. Viciado em pó, me obrigou a usar também, fiquei morrendo de medo, mas até que gostei, dei uma surra de tabaca no velho, que ele nunca esqueceu. Foi bom, pois ele me pagou muito bem – fiquei fascinada com a valorização do meu trabalho.
Hoje tenho clientes empresários, professores, Juízes e até alguns cantores de axé daqui de salvador. Comprei um flat na barra. Estou na metade do meu curso, mas só vou me formar pra entregar meu diploma aos meus pais, não quero, ainda, sair dessa profissão.
Ah sim, faço enfermagem.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Série

Depoimentos de Garotas de Programa de diferentes classes sociais & culturais.
Tema: Minha vida não é uma gozação.
Episódio 1- Girlene, 23 anos – quenga de cabaré.
-Bom gente, meu nome é Girlene, mas meu nome de guerra é Shirley. Eu comecei nessa vida bem novinha, com onze anos. Ficava perambulando nas estradas, pegava uns caminhoneiros  lá perto de Nazaré das farinhas, mas malmente dava pra comer. Foi quando eu conheci Lurdão, uma sapata cafetina que tinha um brega em Cruz das Almas. Lurdão me levou pra trabalhar nesse brega, que se chamava Recanto dos Fogosos quando eu tinha quinze anos, mas só pra lavar prato, varrer e limpar os quartos das quengas. Um certo dia, Marivaldo, um cliente muito do rico de Lurdão, me viu varrendo o terreiro e perguntou se eu era puta nova, ela riu e disse que dependia do pagamento dele. Foi aí que eu entrei pro ramo das quenga de Lurdão.
No começo eu só ganhava vinte reais por noite, de modo que Lurdão lucrava cinqüenta reais da minha parte por cliente. Quando eu fui ficando mais experiente lá no brega, eu fui ganhando mais. E hoje eu até ganho bem por mês, o mal é que eu gasto muito dinheiro com médico por causa de umas doenças que eu peguei durante minha vida. Mas Lurdão fala que é preciso investir nessas coisas, porque é meu ganha pão.
De vez em quando eu vou na igreja de crente, o povo lá canta bem e o pastor me adora. Mas o povo é que não gosta muito da minha presença lá, eu não sei por quê, deve ser inveja. A pior coisa que tem nessa vida é inveja, se eu pudesse, ai ai, não vou nem dizer...
Acabou?
Tchau gente, um beijo...

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Resposta.

Santa Chuva
Maria Rita
Composição: Marcelo Camelo

(ele)

Vai chover de novo
Deu na TV
Que o povo já se cansou
De tanto o céu desabar
E pede a um santo daqui
Que reza a ajuda de Deus
Mas nada pode fazer
Se a chuva quer é trazer você pra mim
Vem cá, que tá me dando uma vontade de chorar
Não faz assim
Não vá pra lá
Meu coração vai se entregar
À tempestade...


(ela)

Quem é você pra me chamar aqui
Se nada aconteceu?
Me diz?
Foi só amor? Ou medo de ficar
Sozinho outra vez?
Cadê aquela outra mulher?
Você me parecia tão bem...
A chuva já passou por aqui
Eu mesma que cuidei de secar
Quem foi que te ensinou a rezar?
Que santo vai brigar por você?
Que povo aprova o que você fez?
Devolve aquela minha TV
Que eu vou de vez
Não há porque chorar
Por um amor que já morreu
Deixa pra lá
Eu vou, adeus
Meu coração já se cansou de falsidade...

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Gabriela, SEMPRE GABRIELA.

‘’Dizem que sou louca
Por pensar assim
Se sou muito louca
Por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz!
E não é feliz!
Não é feliz...’’ (
Arnaldo Baptista e Rita Lee)

A da pomba-gira.
Tão doce, tão linda, tão louca. Se faz boneca, às vezes, mas vem a pomba e acaba com tudo (risos). Quando a conheci, me sentia insegura “-será que ela é tudo isso mesmo que dizem?’’. Sim, ela é isso tudo e mais um muito. Como descrever corpo e mente de alguém assim? Bom, vou começar pelo corpo: tamanho mediano, morena/loura, dourada, sexy, tamanho P, pernocas rechonchudas, andar despojado, olhar denunciador. Mente: atriz, sentimental no ápice, sonhadora, INTENSA, boba, safada, carinhosa também no ápice, antiga virginiana e recém libriana.
Se ela soubesse o quanto quero o bem dela, o quanto me dói vê-la sofrer, e o quão valioso é o seu riso pra mim...
Nossa amizade é especial, não foi feita apenas de momentos felizes, mas de muitas experiências vividas juntas, ora boas, ora tensas, mas sempre inesquecíveis.
Se eu estou triste, penso nela quando se joga na parede e imita um sapo.
Se eu estou feliz, lembro da inveja branca que sinto do seu sorriso mais’q’lindo.
E se estou brava, peço a Deus que me mande todas as pombas que habitam no corpo dela, minha eterna Gabriela.

Todas As Mulheres Do Mundo
(Rita Lee)

Mães assassinas, filhas de Maria
Polícias femininas, nazijudias
Gatas gatunas, kengas no cio
Esposas drogadas, tadinhas, mal pagas
Toda mulher quer ser amada
Toda mulher quer ser feliz
Toda mulher se faz de coitada
Toda mulher é meio Leila Diniz
Garotas de Ipanema, minas de Minas
Loiras, morenas, messalinas
Santas sinistras, ministras malvadas
Imeldas, Evitas, Beneditas estupradas
Toda mulher quer ser amada
Toda mulher quer ser feliz
Toda mulher se faz de coitada
Toda mulher é meio Leila Diniz
Paquitas de paquete, Xuxas em crise
Macacas de auditório,velhas atrizes
Patroas babacas, empregadas mandonas
Madonnas na cama, Dianas corneadas
Toda mulher quer ser amada
Toda mulher quer ser feliz
Toda mulher se faz de coitada
Toda mulher é meio Leila Diniz
Socialites plebéias, rainhas decadentes
Manecas alcéias, enfermeiras doentes
Madrastas malditas, superhomem sapatas
Irmãs La Dulce beaidetificadas
Toda mulher quer ser amada
Toda mulher quer ser feliz
Toda mulher se faz de coitada
Toda mulher é meio Leila Diniz

Leila Diniz.

domingo, 7 de novembro de 2010

Parte IV - ultima.

O coração disparou. Com a voz tremula ela perguntou:
- Quem é? – e o visitante não respondeu, apenas bateu novamente...
Então ela abriu a porta com os olhos fechados, e acompanhou com o olhar dos pés até a cabeça do suposto visitante. Droga! Era o tal poeta bêbado.
Sem paciência, ela perguntou o que ele queria e não convidou para entrar. Mesmo assim, o poeta a empurrou para o lado e entrou, e já foi logo tirando os sapatos. Ela se irritou, e perguntou o que queria, já que ela o dispensou. Ele, completamente pervertido por pensamentos eróticos em relação à Lisbela, disse:
- Minha jovem, eu sei o que fazes nessas noites de lua cheia, alias, em todas as luas. Para de esperar alguém que nunca chegará. Dê uma chance para a sua vida que está repleta de boas oportunidades. Se ele dizia te amar tanto, por que nunca voltou? Por que não te escreve? Por não manda um cartão de natal? Ele nem lembra que você existe, Lis.
Lis sentou-se no sofá de maneira despojada, respirou fundo, aliviando seus pensamentos pesados, olhou no fundo dos olhos verdes daquele homem bonito, e quando ia responder foi interrompida por ele, que disse:
- Me dê uma chance, só uma. Esta noite. Posso te fazer feliz hoje, e se você gostar, passarei a vir aqui toda quinta-feira, no final do seu show. Mas se você não gostar, mudar-me-ei para bem longe, França, Itália ou até mesmo para o inferno.
Lis riu. Andou pela casa com uma mão na cintura e a outra no queixo. Pensou. Pensou. E decidiu deixar o Poeta passar aquela noite com ela.
Durante a noite, eles beberam, dançaram, recitaram poesias, fumaram, quase transaram...e enfim adormeceram em um sono profundo com as pernas embaraçadas.
Subitamente, a porta da casa de Lisbela começou a ser espancada desesperadamente, assustando-os. Ela perguntou para Tom:
- Você é casado? – com cara de espanto.
- Claro que não! Eu vou ou você vai? Morrendo de medo, o covarde poeta.
- Você vai, né? Já pensou se for um ladrão? Vá, vá logo.
E o medroso Tom foi com as penas tremendo e com uma imensa colher de pau nas mãos. Abriu a porta devagar, e perguntou:
- Quem é você? O que você quer?
Mas o inconveniente visitante não quis conversa, foi logo empurrando a porta e perguntando por Lisbela:
- Cadê Ela?
- Arlindo? AAAAARRLLIINDDO?? Como assim? Onde você estava esse tempo todo?
- Ora Lisbela, mande esse cara ir embora, e vá tomar um banho.
- Eu não acredito que depois de tanto tempo você volta para me dar ordens! Saia da minha casa, seu grosso!
- Você quer mesmo que eu saia?
- Não! Fique! – Lisbela olhou para o Poeta, e docemente falou: - Por favor, Tom, saia daqui. Amanhã eu ligo para você e explico o que aconteceu.
O poeta ficou furioso. Pegou suas roupas esparramadas pela casa e saiu xingando Deus e o mundo.
Arlindo pediu novamente para Lisbela tomar um banho, afinal, ela estava suja de um suor masculino... E ela foi, com o coração na garganta, sem acreditar no que estava acontecendo. Se banhou, vestiu uma toalha, e sentou em frente ao desgraçado.
- eu começo, ou você começa? – perguntou Arlindo.
- Eu. Sabe quantas noites eu passei...
- Cala a boca, eu já sei de tudo:  sofrimento, mudança, novos hábitos... você quer mesmo falar isso pra mim?
Lisbela sentiu uma raiva tão intensa naquele momento, que a única reação que teve foi dar um belo de uma tapa na cara dele.
O silencio se fez por cinco minutos. Ele tocou em suas cochas. Ela se arrepiou. Ele olhou pra ela com desejo, e ela correspondeu. E assim começou uma intensa cena de paixão: aos murros e gemidos.
No inicio da manhã, durante um café preparado por Arlindo, Ela insiste na pergunta:
- Onde você estava, cretino?
- Ora, estava na minha casa, com os meus quatro filhos e minha dedicada esposa: Inaura.
- Então a historia que Margarete me contou era verdade. Seu miserável, asqueroso, verme...!
- Pare de ser dramática, Lisbela. Você não formou uma família porque não quis, nunca disse que você seria minha para sempre.
- Como ousas a falar isso? Eu dediquei minha vida inteira a você. Pra onde vais quando sair daqui?
- Voltarei para minha família.
- O que? Você ainda está casado? Que desgraça, Arlindo. Vou ser sua amante agora?
- Só se você quiser, querida...
- Onde você mora?
-Pra que você quer saber? Para fazer escândalos na minha porta?
- Até parece que você não me conhece. Odeio escândalos! Só quero saber para não...
- para não o que? Não vou mais ficar sem vir te ver, minha doce...
- Eu não quero ser sua amante, seu vagabundo.
- por que não?
Lisbela pensou, pensou... e chegou a conclusão que sua vida com Arlindo seria perfeita se fossem amantes, pois ela poderia continuar trabalhando, cantando, saindo com outros homens e ainda tendo a melhor parte do seu amor por perto sempre que quisesse.
- Tudo bem, seu ordinário. Serei sua amante... mas com algumas condições...
- qualquer uma, minha diva, sei que valerá por suas penas saborosas!
- Quero você presente todas as quintas, feriados, dia dos namorados e, claro, no meu aniversario.
Arlindo aceitou as condições de Lisbela. E hoje, são os amantes mais conhecidos da cidade de cabrobró. Os shows de Lisbela que eram feitos em um bar, hoje se faz num clube bem conceituado, e Arlindo é dono de um cassino que fica no clube – perfeito.
E assim continua a saga dos eternos amantes...
Aah sim, Inaura e os quatro filhos de Arlindo estão em casa, todos gordos e fúteis. E todo natal recebem a “Amiga” de Arlindo em sua casa com muita educação e ingenuidade. HAHA
Lisbela e Arlindo nunca foram tão felizes: dinheiro, sexo, amor e boemia. Brigas de vez em quando eram ótimas para esquentar a relação. Vá entender esse amor fugaz e “eterno”.

James Dean and Marilyn Monroe.

Sempre.


quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Parte III

O bar estava lotado: homens, mulheres, poetas, fotógrafos,  jornalistas, artistas e pseudo-artistas . Assim que Lis entrou sentiu uma estranha sensação. O mesmo pressentimento quando conheceu Arlindo. Ela foi ao seu camarim, virou três taças de vinho seguidas, olhou seu rosto no espelho e saiu.
Quando subiu no palco, a luz que refletia apenas o seu corpo acabou cegando-a, impedido de ver a platéia. Deu boa noite. Cantou a primeira canção. Sentiu-se tonta. Ausentou-se durante uns quinze minutos. Voltou. Já se sentia melhor. Pediu desculpas ao publico. E deu seqüência ao show.
Mesmo linda, com a voz impecável e inspirada, Lis sentia uma insegurança que nunca sentira antes. Era como se fosse a primeira vez que estava ali. Mesmo assim segurou a onda, e seguiu quase naturalmente, se não fosse um pedido de um fã, que dizia: -Linda mulher, desejo que tu cantes ‘a woman left lonely’ de Janis Joplin.
No momento, Lis gelou, pois a musica dizia exatamente o que ela sentia. Mas já tinha se acostumado com pedidos de fãs, então não o decepcionou. Cantou e o publico aplaudiu de pé. Mas aquela sensação ainda não havia passado, Ela já estava desconfiada, ou iludida. Quando cantou a ultima musica, agradeceu ao publico pela presença e desceu desnorteada, como se procurasse alguém no meio da multidão.
Nesse caminho, Ela esbarrou no tal poeta. Ele se chamava Tom Capricorniano, e era seu fã desde o primeiro show. Ele a pegou pelo braço, deu-lhe um abraço desengonçado, e sussurrou no seu ouvindo:-Te espero no camarim com flores e propostas...
Ela riu como se fosse uma piada, pois Ele já estava bêbado. O poeta seguiu para o camarim da recém artista. Ela continuou a procura, e de repente viu um homem de costas que lembrava vagamente Arlindo, ela considerou o tempo que não mais via seu amor, e já foi puxando o desconhecido, que virou assustado pensando pornografias. Ela se desculpou. Sentou na primeira cadeira que encontrou, e chorou desapontada fumando seu cigarro.
Depois de um certo tempo chorando de cabeça baixa, Lis se lembrou de Tom, que disse esperá-la no camarim. Então ela seguiu para lá. Quando chegou, o poeta boêmio já estava roncando. Ela fez um barulho proposital para que ele acordasse naturalmente. E assim aconteceu. Ele riu e pediu que a cantora se sentasse ao lado dele, dando três tapinhas no sofá. Ela notou umas flores próximas ao espelho, mas nada disse, apenas fez uma expressão de curiosidade. O poeta começou a citar algumas poesias que havia composto para ela, mas ela nem prestou atenção, queria ir direto ao assunto. Pediu que adiantasse as supostas propostas. Ele, por sua vez, se declarou. Disse que desde a primeira vez a viu cantando ficou alucinado por ela e que ela o seduziu intimamente, pois quando pensa nela, o corpo corresponde o pensamento, desejando se fartar daquele corpo perfeito, maquiado pela voz e personalidade que ela possuía. Ele queria casar com ela, ter filhos, e ser seu empresário – bobo.
Lisbela até poderia ser uma mulher vulnerável por causa da sua carência, mas não era boba. Ela sabia que a verdadeira proposta do poeta era ganhar dinheiro à custa dela. E recusou o pedido imediatamente.
Quando chegou em casa, Lis sentiu um extremo cansaço nas pernas e nos ombros. Por isso tomou um banho demorado, fumando, bebendo, chorando e ouvindo Pink Floyd. Vestiu uma camisola que a muito não vestia. Quando apagou as luzes para dormir, alguém bateu na porta. E ela logo reconheceu o toque.

Continua...

Rita Hayworth. Linda.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Parte II

Lisbela estava cansada daquela vida monótona, daqueles vizinhos tarados e de tudo. Então resolveu mudar. E mudou. Transformou-se numa mulher independente, com emprego, carro e cigarros. Chega de amizades com mulheres! Chega de usar vestidinhos de renda. Chega de esperar alguém que nunca chega.
Ela trabalhava o dia inteiro num escritório de contabilidade, e a noite cantava num bar lotado de homens: poetas, músicos da bossa nova, empresários e cafetões.  Lis estava completamente mergulhada no mundo do jazz, e todos iam para o bar apreciar a linda voz da mulher que usava blusa social masculina, calças e um pequeno chapéu preto. Uma polpa nos cabelos e sempre acompanhada por um cigarro e um copo de vinho (barato).
No fim da noite, quando cantava a ultima musica, sempre a dedicava para Arlindo. No fundo ela achava que ele estava morto, e a dor de não ter velado aquele corpo que a tocou por todas as partes, deixava a pobre Lis profundamente triste... e quando ela estava triste, cantava com muito mais emoção.

O publico foi à loucura quando Ela, louca de vinho, disse: -Hoje é uma noite especial. Estaríamos comemorando dez anos juntos, no entanto, o desgraçado fugiu com meia dúzia de pernas magras para longe das minhas pernocas salientes. E hoje estou aqui, sozinha, ou melhor, acompanhada apenas pelo meu melhor amigo: o álcool. Mas com certeza tem alguém a espera de vocês lá fora, e se for uma mulher, meus caros, jamais a abandone. Pois embora vocês estejam aqui, Elas estão ao lado da porta, ouvindo um disco velho de Roberto Carlos, chorando e ansiando a chegada dos seus respectivos Homens... enfim, quero dedicar essa musica ao homem mais cafajeste de todos os tempos: Arlindo Orlando.- E usou o mais lindo tom de sua voz ao cantar Someone To Watch Over Me (George Gershwin / Ira Gershwin). Foi lindo.

 

No dia seguinte, a cidade não comentava outra coisa, a não ser o sucesso que Lisbela estava fazendo entre os homens. Todos queriam conhecer a voz mais vibrante da cidade. Acontece que Ela só cantava para desabafar a dor que sentia vinte e quatro horas por dia, pelo abandono de Arlindo.

 

Quando Lis tomava o seu café da manhã, antes de ir trabalhar, ela se lembrava do dia que ele dormiu na sua casa, e preparou um delicioso café da manhã, cheio de flores e frutas. Ele vestia apenas uma cueca samba canção e tinha uma toalha enrolada no pescoço. Os cabelos molhados e já ajeitados para trás. Ela usava um hobe rosa de seda com rendas negras que valorizavam suas curvas. Os cabelos soltos, o que era raro. Foi a manhã mais linda da sua vida. E a ultima ao lado do seu amor.

 

Então foi trabalhar, com os olhos inchados de tanto chorar. No finalzinho tarde, quando voltava para casa, acendeu um cigarro discreto. Passou por uma praça onde costumava se encontrar com Arlindo. La ainda estava um parque antigo, uma arvore e um banco de madeira que sempre marcava sua bunda quando ficava muito tempo sentada, mas ela nada sentia, pois estava anestesiada pelos beijos e toques avassaladores de Arlindo. Ficou parada durante cinco minutos, olhando a praça e lembrando de alguns momentos vividos ali. Depois voltou para casa, pois aquela noite prometia. Quinta-feira era o dia dos poetas irem para o Bar onde ela cantava, e estava de olho em um deles.

 

Chegando em casa, Ela foi logo tomar um banho. Começou a escolher a roupa. E naquela noite, ela usou um longo vestido preto, que deixava suas costas totalmente nua. Quando estava se maquiando, ela se lembrou de Arlindo deitado em sua cama, falando que ela tinha uma beleza pura, natural, e não precisava de maquiagem. Mas continuou a passar o seu batom mais vermelho de todos, pesou bastante nos olhos – irresistível.

 

Quando Lis chegou ao bar: uma surpresa.   

 

Continua...


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 Audrey Hepburn. Sem comentários.