terça-feira, 1 de novembro de 2011

Vênus


O pesadelo da perfeição



Quando usamos termos que nos remete a pensar numa vida perfeita, passarinhos nos jardins,  lindas flores, comportamentos meigos, doces palavras e um monte de coisas mágicas, automaticamente lembramos dos malditos contos de fada. Resumindo: a menininha sofredora, que passa por terríveis injustiças na vida, um dia se apaixona por um príncipe, que não o basta ser bonito (branco, alto, loiro, olhos claros e o corpo completamente aos padrões da beleza universal) ele tem que ser encantado. No entanto, outras dezenas de moças fúteis também querem desfrutar de um casamento com esse homem ideal. Aí a historia nos apresenta fatos que nos mostra o quanto, até nos contos de fadas, nós mulheres adoramos uma competição por um ser masculino que é desejado por outras mulheres carentes. E a disputa fica cada vez mais vergonhosa para os que julgam um absurdo alguém obrigar o outro a se apaixonar pelo que você tem a oferecer por bens materiais e não pelo o que você de fato é. Pulando essas vergonhosas cenas que nos apresentam bichos escrotos brigando por uma presa utópica, vem o final: o príncipe finalmente conhece a humilde menina que valoriza as coisas simples da vida, certamente tem uma beleza rara escondida por trás daquele suor produzido ao limpar e esfregar escadas para suas terríveis madrastas, a doce bela que possui lindos cabelos, olhares sofridos, mas cheios de esperança. Sim, é por ela que ele se apaixona e quer se casar, mesmo contra a os conceitos de uma população que nos deixa na duvida se é desde as histórias encantadas que o preconceito tinha maiores proporções na questão da classe social, ou da raça que possuía aquela gente.

Posto esta síntese que parece ser uma realidade apenas nos contos de fadas, me arde um desejo enorme de comparar essas historias com a realidade atual que está ao meu humilde conhecimento. A questão que quero levantar é a seguinte: mulheres devem ser lindas, fofas, boazinhas, damas e gentis sempre, ou devem ser mulheres humanas, assim como qualquer ser humano que tem problemas, que odeiam hipocrisia, que se estressam com as injustiças do trabalho ou da vida acadêmica, que xinga a mãe dos outros no transito, que buscam com instinto de leoa a sua independência financeira para que não precise um dia depender do seu companheiro ou da sua família... Será mesmo que nos dias de hoje as Amélias é que são mulheres de verdade? Ou apenas são um subtipo de mulher escrava camuflada pela idealização da mulher que dedica a vida cuidando do almoço, dos filhos, do marido e da casa. Olha, confesso que acho bonito esse instinto fraternal de boa vizinhança, mas sei que sou uma mulher capaz de ser todas essas mulheres numa só. Posso ser mil, posso ser nada, posso me iludir e depois dar a volta por cima, posso mudar, posso xingar, posso surpreender meu chefe, posso ser o meu chefe, posso ter um dois ou três filhos se eu quiser, posso casar, me divorciar, e começar uma nova vida moderna, posso voltar atrás e assumir que estava errada, ou jogar na cara que eu estava certa, posso ser dona de romances que farão a minha vida valer muito mais a pena. Tudo posso se tiver uma boa saúde e disposição para continuar lutando pelos meus ideais. E assumo com todas letras em caps lock: POSSO TUDO O QUE EU QUISER, POIS SOU UM SER HUMANO LIVRE. Até de fada posso brincar quando a minha filha eu quiser agradar. Tudo o que eu preciso é de liberdade para ser quem eu quiser ser, na hora que me der na telha. Pois ser mulher, é ser mil conservando a sua essência natural.

Detesto mulheres que fazem cara de paisagem para demonstrar que é cuidadosa com o lar, que é exemplar, que os filhos estão em primeiro lugar, que a janta deve estar às 19:30 na mesa para o marido a fome matar. Que todos oram juntos antes de se deitar. Quanto tradicionalismo. Quanta frustração maquiada por uma falsa felicidade nos olhos de uma Venus. Em certo ponto, acho importante a família ter uma rotina baseada na idéia de organização, educação e carinho. Mas o que se discute é a perfeição que ainda se busca na famílias por uma razão de boa praça. Acreditem, por de traz da perfeição existem estragos secretos que são cegos aos olhos das Amélias. Um dia ela vai se deparar com o “SE”.

- E se eu tivesse estudado? – E se eu tivesse trabalhado? – E se eu tivesse seguido a minha carreira de bailarina? – E se eu tivesse dado chance ao Túlio de me namorar? – E se eu tivesse enfrentado a minha família, e fosse embora pra frança estudar balé? E se? E se...

Cabe a nós, mulheres, escolhermos o que queremos e como queremos. Direito de atuar em tudo, já temos. Pois outras mulheres importantes do passado, lutaram para que hoje em dia ocupemos lugares que antes só cabiam aos homens. Acho que a coisa mais fascinante no mundo feminino é a INDEPENDÊNCIA



   




"Toda mulher quer ser amada
Toda mulher quer ser feliz
Toda mulher se faz de coitada
Toda mulher é meio Leila Diniz" 
(Rita Lee)