segunda-feira, 14 de maio de 2012

Desabafos do diário da Anna – ep. 1



Hoje eu acordei um pouco mais cedo que o normal, tive um sonho estranho. Antes de abrir os olhos, procurei você ao meu lado, com o meu braço, e vi que já tinhas se levantado. Enfim despertei de vez, e percebi que ainda não estava na hora, mas como já estava sem sono, levantei. Fui até a cozinha beber água e preparar o nosso café, e encontrei em cima da mesa, o bilhete que você deixou antes de partir. Dizendo basicamente que o erro não estava em mim; que você é mesmo um louco de me deixar sozinha, e que provavelmente irá se arrepender muito de estar abrindo mão de uma mulher, como eu, pra viver uma aventura mundo a fora.
Respirei fundo como se o que estava acontecendo comigo, naquele instante, fosse uma pegadinha. Com o bilhete na mão, saí procurando você pela casa. As lágrimas começaram a querer saltar dos meus olhos, e o coração batendo a 200 por hora. Não tinha mais nada teu pela casa: nem roupa, sapato, cigarros, violão – Nada. Fez questão de ir embora enquanto eu adormecia, pois sabias que o meu sono é pesado, e nem uma bomba atômica me acordaria.
Sentei, ainda de camisola, na varanda. Olhei em volta, as plantas, gatos, cachorros, pássaros, flores e o pé de goiaba ainda estavam ao redor da casa. Só faltava você. De modo que ficou tudo vazio, sem sentido, sem vida, sem você. Respirei por cinco minutos aquele ar que me faltava. Pensamentos eram tantos, que não consigo saber o que se foi pensado naqueles instantes de desespero. Um dia, você mesmo me fez prometer que eu jamais iria te abandonar, independente de qualquer situação. Me fez olhar em seus olhos e jurar o meu amor e companhia até ficarmos velhinhos e partir desta pra melhor. Por que estou pensando nisso agora? Será que é verdade o que dizem, que no fim, sempre voltamos os pensamentos para o começo? Juro que quis voltar pra cama, dormir, acordar e perceber que tudo não estava passando de um sonho tolo. Mas não era.
Voltei a ler o bilhete. 

Ana, perdoe a minha falta de maturidade. Sair assim sem te explicar, sem te dar um abraço... Não acredite que estou fazendo isso tranquilamente. Na verdade, eu estou desesperado. Crise existencial. Nostalgia. Não sei. Jamais vou encontrar na vida uma mulher tão fantástica como você, e provavelmente, irei me arrepender assim que pegar estrada. Terei que ser forte. Há um mês venho pensado muito em mim. Mais em mim, do que na gente junto. E vi que estamos novos demais, eu com 25 e você com 24. Não devemos nos apegar tanto agora, já que o mundo é grande e há tanta coisa lá fora que ainda não conhecemos. Vamos viver. Vamos ser feliz. Eu te desejo muita sorte e felicidade. Você merece, linda. Te amo, nunca duvide disso. Um abraço. Jorge.

Aquelas palavras não desciam na minha garganta. Dava vontade de vomitar a cada ponto, em  cada verso escrito de qualquer jeito, naquele papel sem importância. Que história é essa agora de mulher fantástica? Premio de consolação? Ah! Faça-me o favor. Crise existencial? Eu sempre deixei muito claro que eu tenho bloqueios emocionais, traumas, crises de auto-estima... E você sempre me mandando relaxar, dizendo que isso é tudo uma questão psicológica, que não há motivos para crises... E agora você me vem com esse papinho de “ser ou não ser”? Sinceramente, não sei se choro com saudade de você, ou se saio gritando de raiva, por ter me deixado amar uma pessoa tão babaca e medíocre. Banho!
Eu realmente não consigo pensar em nada. Nem definir o que estou sentindo agora. Tem 43 minutos que descobri que o grande amor da minha vida era, na verdade, uma ilusão daquelas! Tenho que me arrumar pro trabalho, mas como vou dar aulas, com a cabeça cheia de minhocas? Preciso de um direito de resposta. Tenho que olhar em seus olhos e ouvir você dizendo que está em crise, pra eu poder dar um soco na sua cara e mandar você pra puta que o pariu, pois esse é o grande mundo que te cabe.
E o pior é que graças ao nosso relacionamento, não tenho mais meus fieis amigos. Eu seria muito cara de pau, se os procurasse agora, dizendo que estou sofrendo por causa do seu abandono. Abandono. Jamais vou digerir essa história. E como vou conseguir me relacionar novamente, com esse trauma de acordar e não estar mais do lado da pessoa com quem dormi? Sono pesado - será difícil adormecer.
Tive uma idéia, vou escrever um email, falando tudo o que penso sobre essa sua fuga ridícula, pra daí então, eu voltar a minha rotina normal.

Caro Jorge; de fato foi uma cagada essa sua idéia de me abandonar sem sequer conversar comigo sobre os motivos e a verdade. Não me sinto nova aos 24 anos, já você, com seus 25, não bastou ter essa quantidade de anos em vida, pois está agindo como um adolescente de 15. Pois bem, não quero comentar mais sobre suas desculpas esfarrapadas. Só quero deixar algumas coisas bem claras por aqui. Seguinte, você não vai mesmo encontrar uma mulher como eu. Inteligência, educação, maturidade e beleza, num só corpo, são raros de se encontrar. Limpe a sua boca e a sua mente para falar do amor. Você não me ama, pois é incapaz de amar a si mesmo. Não há como sentir o amor por alguém, se ele não existe em você. Guarde suas palavras de bons votos para qualquer outra perna magra que aparecer em sua vida. Não pense você que eu não reparei o quanto estava estranho nesses últimos dias, e se fosse qualquer outra mulher, te enxeria de perguntas sufocantes até te forçar falar o que você estava pensando ou sentindo. Não quis ser inconveniente. Mande pelo correio a minha coleção de Rita Lee e Elis Regina, minha camisa dos rolling Stones e minha cueca rosa da Calvin Klein. Não desejo que você seja feliz, sorry. Espero apenas que você aproveite esse mundo grande lá fora, para viver e aprender bastante com as burradas que faz. Saiba que eu não estou bem, mas também não sinto a mínima falta de você. O fato de ter sido enganada é que está me matando. Passar bem. Anna! Com dois N’s.
.
Uffffff... Agora: compras, bebidas, cigarros e musicas da Alcione, por favor!

Nenhum comentário:

Postar um comentário