quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Série

Depoimentos de Garotas de Programa de diferentes classes sociais & culturais.

Tema: Minha vida não é uma gozação.

Episódio 5-Miralva, 47 anos – Promovida.

Antes Miralva dos Santos de Jesus Silva, hoje Paola Cristina. Comecei novinha, nem sabia o que era direito. Minha mãe de sangue me vendeu pra uma família lá em Alexânia, Goiás. Dona Neuza, que me criou até uns 12 anos, sempre disse que eu era muito da assanhada, e que nem sabia o por quê que ela tava comigo se ela tinha certeza que eu não vingar pro bem. O marido dela, Seu Abílio, ficava me bulinando quando eu ia tomar banho. Eu nem sabia de nada, era inocente, e como tinha ele como um pai, eu até gostava. Um dia Dona Neuza me pegou fazendo coisa com Ele no banheiro,ficou nervosa, me bateu tanto que eu quase morro ali mesmo. Juntou minhas coisinhas e me botou na rua.
Quando eu saí de casa, não tinha idéia de lugar nenhum pra ir, aí entrei em um bar chamado cachaça do diabo, e lá conheci uma macumbeira chamada Mãe Odina, que disse que ia me conhecer e descobrir a minha vocação. Ela me levou pra casa dela, jogou minhas coisas fora e me arrumou toda pra ir fazer despacho com ela. Eu aprendi muitas coisas com ela: recuperar o amor em vinte dias, curar doença de cabeça, destruir as pontes do mal na vida das pessoas, muitas coisas. Aí ela descobriu minha vocação: Puta.
Me mandou pra um brega de iniciantes lá em Aparecida de Goiânia, se chamava centro noturno de lazer de Goiás. Eu entrei lá, ela me rezou, e eu fui falar com a dona: Rosângela Marcia. Rosa me falou –‘mostre o que tu sabes fazer, putinha.’ Aí eu fui até um homem que tava sentando lá e bebendo, peguei a garrafa na mesa dele, bebi tudo no gargalo, tirei as calças dele e caí de boca no homem. Ela ficou encantada com meu jeito, me arrumou logo um quarto e eu comecei a trabalhar no mesmo dia.
Eu era o sucesso do centro noturno, todos os homens me procuravam. Passaram dois anos eu trabalhando lá, Rosa me chamou pra ser dançarina do bar do companheiro dela. Bar de luxo. Cheguei lá, as quengas ficaram com inveja de mim porque eu sempre fui muito bonita por causa da minha cintura de pilão e meus peitos duros. Aprendi a dançar tudo. Fiquei só nesse bar: ganhava mais, os fregueses eram mais educados e os quartos mais arrumados. Fiquei como dançarina mais ou menos uns dez anos, aí Rosa morreu. Mataram Rosa. Foi uma tragédia na minha vida. Fiquei parada dois meses , não tinha forças pra trabalhar, me acabei no álcool, comecei a fumar. Aí o viúvo de Rosa me chamou pra ser gerente desse bar e substituir Rosa. Eu aceitei. O trabalho foi dando certo, e hoje eu treino as putinhas novas no centro noturno, treino as dançarinas e ainda dou conta da parte administrativa do bar.
Eu acho que na minha vida deu tudo certo, graças aos trabalhos feitos por Mãe Odina. Sem ela, eu não seria quem sou hoje em dia. Toda sexta-feira eu vou no terreiro, faço meus trabalhos, ajudo Mãe nos despachos e quero morrer fazendo isso, porque é minha vocação, é meu dom e muita gente depende de mim pra sobreviver.


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